sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aula 4 Micro


Microbiologia

Prof. Giorgio

Flora Bacteriana Normal

No corpo humano sadio, os órgãos internos, como sangue, cérebro, músculos e outros, são normalmente livres de microorganismos. De modo contrário, os tecidos superficiais como a pele e membranas mucosas estão constantemente em contato com microorganismos do meio am­biente e são normalmente colonizados por certas espécies microbianas. A mistura destes microorga­nismos regularmente encontrados em qualquer sí­tio anatômico e é denominada flora normal.

A flora normal pode receber do hospedeiro, suplementos alimentares, um meio ambiente es­tável, temperatura constante, proteção e trans­porte.

O hospedeiro, por sua vez, pode obter da flora normal alguns benefícios nutricionais, bem como estimulação do desenvolvimento de teci­dos linfáticos. Mas o mais importante benefício geral é a colonização bem adaptada da flora nor­mal, excluindo outros microorganismos que possi­velmente poderiam se instalar e causar doença.

É sabido que a flora normal é adaptada para o seu respectivo hospedeiro, mais provavelmen­te por interações bioquímicas entre a superfície de componentes da bactéria é o hospedeiro, tendo a função de aderência. De modo geral, há duas razões para que a flora normal bacteriana seja usual­mente localizada em locais particulares:

1) a flora normal exibe uma preferência tecidual ou uma predileção pela colonização, muitas ve­zes conhecida como "tropismo tecidual".

2) a maioria das bactérias são capazes de coloni­zar especificamente um tecido ou superfície em particular usando seus próprios componentes de superfície (como cápsula, fíbrias, compo­nentes da parede celular, etc.) como ligantes a receptores específicos localizados no sítio de colonização.

Composição da Flora Normal

A flora normal em diferentes animais varia amplamente e está relacionada com fatores como idade, sexo, dieta alimentar e temperatura. Algu­mas bactérias são encontradas regularmente em locais anatômicos particulares, outras estão pre­sentes só ocasionalmente ou somente em alguns momentos da vida do hospedeiro. Tentaremos descrever um pouco mais sobre a flora bacteria­na normal de alguns sítios anatômicos:

Flora normal da pele:

O adulto humano é recoberto com aproximadamente 2m2: de pele. A densidade e composição da flora normal da pele variam com a localização anatômica A alta umidade das axilas, virilha e áreas entre os dedos dos pés suportam a atividade e o crescimento de grandes quantidades de células bacterianas, mas a densidade populacional na maioria dos outros sítios é relativamente mais baixa. A maioria dos microorganismos da pele são encontrados nas camadas mais superficiais da epiderme e nas par­tes superiores dos folículos pilosos. Encontram-se normalmente nesses locais micrococos (S.epidermidis e Micrococcus spp.) e corinebactérias. Estes microorganismos geralmente não são patogênicos e são considerados comensais. Algumas vezes, S.aureus potencialmente pato­gênicos são encontrados nas mãos, particular­mente em indivíduos que são portadores nasais destas bactérias.

Flora normal do trato respiratório:

As nari­nas são densamente colonizadas, principalmente por S.epidermidis e corinebactérias e freqüentemente (cerca de 20% da população geral) por S.aureus sendo este sítio considerado o mais importante carreador desta bactéria. Um grande número de espécies bacterianas coloniza o trato respiratório superior (nasofaringe) e são encon­trados predominantemente estreptococos alfa ou não hemolíticos, Neisseria spp. e algumas ve­zes patógenos como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis. O trato respiratório inferior (traquéia, brônquios e tecidos pulmonares) é virtualmente livre de microorganismos, principalmente devi­do à ação eficiente de limpeza do epitélio ciliado que delineia este sítio. Se este epitélio é danifica­do por algum motivo o indivíduo pode ser bas­tante susceptível a infecções por patógenos pro­venientes da nasofaringe (como H. influenzae e S.pneumoniae), bem como adquirir facilmente patógenos externos.

Flora normal da cavidade oral:

A presença de nutrientes e secreções faz da boca o habi­tat favorito para uma grande variedade de bacté­rias. Essas bactérias orais incluem estreptoco­cos, lactobacilos, estafilococos, corinebactérias e ainda um grande número de bactérias anaeró­bias, especialmente Bacteróides spp. A boca apresenta uma série de diferentes situações eco­lógicas com o decorrer da vida do indivíduo, em correspondência com as mudanças na constitui­ção da flora normal Ao nascer, o indivíduo pos­sui uma cavidade oral estéril, mas que rapida­mente é colonizada por bactérias do meio ambiente, particularmente provenientes da mãe quando da primeira alimentação com o leite materno. 'Streptococcus salivarias é a bactéria predominante e pode corresponder a 98% do total da flora oral normal até o aparecimento dos dentes (6 a 9 meses em humanos). A erupção dos dentes durante o primeiro ano de vida leva à colonização por Streptococcus mutans e Streptococcus sanguis. Estes irão permanecer aí enquanto o dente existir. Outras cepas de estreptococos aderem fortemente às gengivas, mas não aos dentes. A complexidade da flora oral continua a crescer com o tempo e Bacteróides e espiroquetas irão colonizar a cavidade oral durante a puberdade. A flora oral normal pode causar danos ao hospedeiro uma vez que algumas dessas bactérias são parasitas que possuem um grande potencial patogênico. Se certas bactérias orais são capazes de invadir tecidos não acessíveis a elas normalmente, uma infecção pode ocorrer. Por exemplo, bactérias da cavidade oral entrando em contato com fendas cirúrgicas podem causar graves abscessos. Estreptococos orais podem ser introduzidos em feridas criadas pela manipulação dentária. Se isto ocorre, por exemplo, em um indivíduo com danos nas válvulas cardíacas devido a uma febre reumática (previamente induzida por estreptococo), o estreptococo oral pode se aderir a estas válvulas e iniciar uma endocardite bacteriana subaguda. A placa dentária, as cáries e as doenças periodontais em humanos resultam primariamente de ações iniciadas pela flora bacteriana oral normal.

A placa dentária, que é o material aderido ao dente, consiste predominantemente de células bacterianas (60-70% do volume da placa) e ainda de polímeros salivares e produtos bacterianas extracelulares. A placa forma uma espécie de biofilme, que pode alcançar cerca de 300-500 células na superfície do dente. Este acúmulo leva tanto o dente quanto a gengiva a possuírem altas concentrações de metabólitos bacterianos, resultando então em uma doença dentária.

As cáries dentárias são a destruição do esmalte, dentina ou cemento dos dentes devido a atividades bacterianas. As cáries são iniciadas pela direta desmineralização do esmalte do dente pelo ácido lático e outros ácidos orgânicos acumulados na placa dentária. As bactérias produzem o ácido lático a partir da fermentação de vários carboidratos presentes na alimentação do indivíduo. S.mutans é a bactéria mais constantemente associada com o início da cárie, mas outras bactérias produtoras de ácido lático também podem estar envolvidas neste mesmo processo. Esses microorganismos normalmente colonizam as fissuras oclusas e os pontos de contato entre os dentes e estão relacionadas com o enfraquecimento destas superfícies.

As doenças periodontais são infecções bacterianas que afeiam as estruturas que sustentam os dentes (gengiva e membrana periodontal). A forma mais comum, a gengivite, é uma condição inflamatória das gengivas e está associada ao acúmulo de placas bacterianas nesta área. Populações elevadas de Actinomyces podem ser encontradas e são a principal causa da infecção. As doenças confinadas somente à gengiva geralmente não levam à perda do dente, mas em infecções severas (onde são encontrados Actinomyces, estreptococos e organismos Gram-negativos como espiroquetas e Bacteróides) formam lesões que normalmente levam à perda do dente. Os mecanismos de destruição tecidual na doença periodontal não estão ainda claramente definidos, mas enzimas hidrolíticas, endotoxina e outros metabólitos bacterianos tóxicos parecem estar envolvidos.

Flora normal da conjuntiva:

Uma variedade de bactérias pode ser cultivada a partir da conjuntiva normal, mas o número de organismos geralmente é pequeno. S.epidermidis e certos corineformes (Propionibacterium acnes, por exemplo) são dominantes. S.aureus alguns estreptococos, Haemophilus spp. e Neisseria spp. são ocasionalmente encontrados. A conjuntiva é mantida úmida e saudável pelas secreções contínuas produzidas pelas glândulas lacrimais. Estas secreções também contêm substâncias bactericidas como a lisozima. Há um pequeno número de microorganismos oportunistas que possuem mecanismos especiais de ligação à superfície do epitélio e que também conseguem suportar o ataque da lisozima Parece que patógenos que podem infectar a conjuntiva (como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis) são capazes de atacar especificamente o epitélio conjuntival por intermédio de receptores de ácido siálico contidos nas células epiteliais.

Flora normal do trato urogenital:

A bexiga é normalmente estéril, mas a flora da uretra anterior, como indicado principalmente por uroculturas, pode ser habitada por uma flora normal constituída de S.epidermidis e alguns estreptococos alfa-hemolítico, entretanto em quantidade não abundante. Além disso, algumas bactérias entéricas (como Escherichia coli e Proteus spp.) que provavelmente são contaminantes de pele, vulva ou reto, podem ocasionalmente ser encontrados na uretra anterior. A vagina é colonizada logo após o nascimento com corinebactérias, estafilococos, estreptococos não-piogênicos, E.coli e uma bactéria denominada de Bacilo de Doderlein (Lactobacillus acidoplnlus).

Durante a vida reprodutiva, da puberdade à menopausa, o epitélio vaginal contém glicogênio devido à ação de estrogênios circulantes. Os Bacilos de Doderlein predominando, são capazes de metabolizar o glicogênio a ácido lático e outros produtos (resultando num abaixamento do pH vaginal), que por sua vez são capazes de inibir a colonização da maioria dos microorganismos (com exceção dos próprios lactobacilos).

Flora normal do trato gastrointestinal:

A flora bacteriana normal do trato gastrointestinal humano tem sido motivo de estudos em uma proporção bem maior que em qualquer outro sitio anatômico. A composição desta flora difere entre as várias espécies animais e ainda dentro de uma mesma espécie. As diferenças nesta composição são influenciadas pela idade, dieta alimentar e condições culturais.

Devido à alta acidez do suco gástrico, somente poucas bactérias (principalmente lactobacilos) podem ser cultivadas a partir do estômago normal.

O intestino delgado proximal possui relativamente pouca flora Gram-positiva, consistindo principalmente de lactobacilos e Enterococcus faecalis. A parte distal do intestino delgado contém um grande número de bactérias, e além dos lactobacilos e estreptococos ainda podem ser encontrados coliformes e Bactemides spp A flora do intestino grosso (cólon) é qualitativamente similar àquela encontrada nas fezes. As populações bacteriarias no cólon alcançam níveis de l.000/mL de fluido.

Coliformes são os mais proeminentes e estreptococos, clostrídios e lactobacilos podem ser regularmente encontrados, mas as espécies predominantes são os anaeróbios (Bacteróides spp. e lactobacilos). Estes organismos podem exceder em quantidade Escherichia coli numa proporção de l 000:1 até 10.000: l. É sabido agora que uma quantidade significativa de anaeróbios metanogênicos (acima de 1.000/g) também residem no cólon de humanos.

Ao nascer, todo o trato gastrointestinal hu­mano é estéril, mas as bactérias são adquiridas logo na primeira alimentação. O início da coloni­zação varia com o alimento administrado ao recém-nato. Em crianças sendo amamentadas no peito da mãe, o número de bifidobactérias pode chegar a 90% do total da flora bacteriana intesti­nal. Enterobacteriaceae e Enterococcus faecalis estão regularmente presentes, mas em peque­nas proporções, enquanto Bacteróides spp, estafilococos, lactobacilos e clostrídios estão praticamente ausentes. Em crianças alimentadas por mamadeiras, as bifidobactérias não são predo­minantes. Quando crianças que até então ma­mavam no peito da mãe passam a ter uma ali­mentação de leite de vaca ou com alimentos sólidos, por exemplo, as bifidobactérias progres­sivamente são acompanhadas de Bacteróides spp, estreptococos, lactobacilos e clostrídios.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom. vlw, serviu de mta ajuda no estudo.