Microbiologia
Prof. Giorgio
Flora Bacteriana Normal
No corpo humano sadio, os órgãos internos, como sangue, cérebro, músculos e outros, são normalmente livres de microorganismos. De modo contrário, os tecidos superficiais como a pele e membranas mucosas estão constantemente em contato com microorganismos do meio ambiente e são normalmente colonizados por certas espécies microbianas. A mistura destes microorganismos regularmente encontrados em qualquer sítio anatômico e é denominada flora normal.
A flora normal pode receber do hospedeiro, suplementos alimentares, um meio ambiente estável, temperatura constante, proteção e transporte.
O hospedeiro, por sua vez, pode obter da flora normal alguns benefícios nutricionais, bem como estimulação do desenvolvimento de tecidos linfáticos. Mas o mais importante benefício geral é a colonização bem adaptada da flora normal, excluindo outros microorganismos que possivelmente poderiam se instalar e causar doença.
É sabido que a flora normal é adaptada para o seu respectivo hospedeiro, mais provavelmente por interações bioquímicas entre a superfície de componentes da bactéria é o hospedeiro, tendo a função de aderência. De modo geral, há duas razões para que a flora normal bacteriana seja usualmente localizada em locais particulares:
1) a flora normal exibe uma preferência tecidual ou uma predileção pela colonização, muitas vezes conhecida como "tropismo tecidual".
2) a maioria das bactérias são capazes de colonizar especificamente um tecido ou superfície em particular usando seus próprios componentes de superfície (como cápsula, fíbrias, componentes da parede celular, etc.) como ligantes a receptores específicos localizados no sítio de colonização.
Composição da Flora Normal
A flora normal em diferentes animais varia amplamente e está relacionada com fatores como idade, sexo, dieta alimentar e temperatura. Algumas bactérias são encontradas regularmente em locais anatômicos particulares, outras estão presentes só ocasionalmente ou somente em alguns momentos da vida do hospedeiro. Tentaremos descrever um pouco mais sobre a flora bacteriana normal de alguns sítios anatômicos:
Flora normal da pele:
O adulto humano é recoberto com aproximadamente 2m2: de pele. A densidade e composição da flora normal da pele variam com a localização anatômica A alta umidade das axilas, virilha e áreas entre os dedos dos pés suportam a atividade e o crescimento de grandes quantidades de células bacterianas, mas a densidade populacional na maioria dos outros sítios é relativamente mais baixa. A maioria dos microorganismos da pele são encontrados nas camadas mais superficiais da epiderme e nas partes superiores dos folículos pilosos. Encontram-se normalmente nesses locais micrococos (S.epidermidis e Micrococcus spp.) e corinebactérias. Estes microorganismos geralmente não são patogênicos e são considerados comensais. Algumas vezes, S.aureus potencialmente patogênicos são encontrados nas mãos, particularmente em indivíduos que são portadores nasais destas bactérias.
Flora normal do trato respiratório:
As narinas são densamente colonizadas, principalmente por S.epidermidis e corinebactérias e freqüentemente (cerca de 20% da população geral) por S.aureus sendo este sítio considerado o mais importante carreador desta bactéria. Um grande número de espécies bacterianas coloniza o trato respiratório superior (nasofaringe) e são encontrados predominantemente estreptococos alfa ou não hemolíticos, Neisseria spp. e algumas vezes patógenos como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis. O trato respiratório inferior (traquéia, brônquios e tecidos pulmonares) é virtualmente livre de microorganismos, principalmente devido à ação eficiente de limpeza do epitélio ciliado que delineia este sítio. Se este epitélio é danificado por algum motivo o indivíduo pode ser bastante susceptível a infecções por patógenos provenientes da nasofaringe (como H. influenzae e S.pneumoniae), bem como adquirir facilmente patógenos externos.
Flora normal da cavidade oral:
A presença de nutrientes e secreções faz da boca o habitat favorito para uma grande variedade de bactérias. Essas bactérias orais incluem estreptococos, lactobacilos, estafilococos, corinebactérias e ainda um grande número de bactérias anaeróbias, especialmente Bacteróides spp. A boca apresenta uma série de diferentes situações ecológicas com o decorrer da vida do indivíduo, em correspondência com as mudanças na constituição da flora normal Ao nascer, o indivíduo possui uma cavidade oral estéril, mas que rapidamente é colonizada por bactérias do meio ambiente, particularmente provenientes da mãe quando da primeira alimentação com o leite materno. 'Streptococcus salivarias é a bactéria predominante e pode corresponder a 98% do total da flora oral normal até o aparecimento dos dentes (
A placa dentária, que é o material aderido ao dente, consiste predominantemente de células bacterianas (60-70% do volume da placa) e ainda de polímeros salivares e produtos bacterianas extracelulares. A placa forma uma espécie de biofilme, que pode alcançar cerca de 300-500 células na superfície do dente. Este acúmulo leva tanto o dente quanto a gengiva a possuírem altas concentrações de metabólitos bacterianos, resultando então em uma doença dentária.
As cáries dentárias são a destruição do esmalte, dentina ou cemento dos dentes devido a atividades bacterianas. As cáries são iniciadas pela direta desmineralização do esmalte do dente pelo ácido lático e outros ácidos orgânicos acumulados na placa dentária. As bactérias produzem o ácido lático a partir da fermentação de vários carboidratos presentes na alimentação do indivíduo. S.mutans é a bactéria mais constantemente associada com o início da cárie, mas outras bactérias produtoras de ácido lático também podem estar envolvidas neste mesmo processo. Esses microorganismos normalmente colonizam as fissuras oclusas e os pontos de contato entre os dentes e estão relacionadas com o enfraquecimento destas superfícies.
As doenças periodontais são infecções bacterianas que afeiam as estruturas que sustentam os dentes (gengiva e membrana periodontal). A forma mais comum, a gengivite, é uma condição inflamatória das gengivas e está associada ao acúmulo de placas bacterianas nesta área. Populações elevadas de Actinomyces podem ser encontradas e são a principal causa da infecção. As doenças confinadas somente à gengiva geralmente não levam à perda do dente, mas em infecções severas (onde são encontrados Actinomyces, estreptococos e organismos Gram-negativos como espiroquetas e Bacteróides) formam lesões que normalmente levam à perda do dente. Os mecanismos de destruição tecidual na doença periodontal não estão ainda claramente definidos, mas enzimas hidrolíticas, endotoxina e outros metabólitos bacterianos tóxicos parecem estar envolvidos.
Flora normal da conjuntiva:
Uma variedade de bactérias pode ser cultivada a partir da conjuntiva normal, mas o número de organismos geralmente é pequeno. S.epidermidis e certos corineformes (Propionibacterium acnes, por exemplo) são dominantes. S.aureus alguns estreptococos, Haemophilus spp. e Neisseria spp. são ocasionalmente encontrados. A conjuntiva é mantida úmida e saudável pelas secreções contínuas produzidas pelas glândulas lacrimais. Estas secreções também contêm substâncias bactericidas como a lisozima. Há um pequeno número de microorganismos oportunistas que possuem mecanismos especiais de ligação à superfície do epitélio e que também conseguem suportar o ataque da lisozima Parece que patógenos que podem infectar a conjuntiva (como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis) são capazes de atacar especificamente o epitélio conjuntival por intermédio de receptores de ácido siálico contidos nas células epiteliais.
Flora normal do trato urogenital:
A bexiga é normalmente estéril, mas a flora da uretra anterior, como indicado principalmente por uroculturas, pode ser habitada por uma flora normal constituída de S.epidermidis e alguns estreptococos alfa-hemolítico, entretanto em quantidade não abundante. Além disso, algumas bactérias entéricas (como Escherichia coli e Proteus spp.) que provavelmente são contaminantes de pele, vulva ou reto, podem ocasionalmente ser encontrados na uretra anterior. A vagina é colonizada logo após o nascimento com corinebactérias, estafilococos, estreptococos não-piogênicos, E.coli e uma bactéria denominada de Bacilo de Doderlein (Lactobacillus acidoplnlus).
Durante a vida reprodutiva, da puberdade à menopausa, o epitélio vaginal contém glicogênio devido à ação de estrogênios circulantes. Os Bacilos de Doderlein predominando, são capazes de metabolizar o glicogênio a ácido lático e outros produtos (resultando num abaixamento do pH vaginal), que por sua vez são capazes de inibir a colonização da maioria dos microorganismos (com exceção dos próprios lactobacilos).
Flora normal do trato gastrointestinal:
A flora bacteriana normal do trato gastrointestinal humano tem sido motivo de estudos em uma proporção bem maior que em qualquer outro sitio anatômico. A composição desta flora difere entre as várias espécies animais e ainda dentro de uma mesma espécie. As diferenças nesta composição são influenciadas pela idade, dieta alimentar e condições culturais.
Devido à alta acidez do suco gástrico, somente poucas bactérias (principalmente lactobacilos) podem ser cultivadas a partir do estômago normal.
O intestino delgado proximal possui relativamente pouca flora Gram-positiva, consistindo principalmente de lactobacilos e Enterococcus faecalis. A parte distal do intestino delgado contém um grande número de bactérias, e além dos lactobacilos e estreptococos ainda podem ser encontrados coliformes e Bactemides spp A flora do intestino grosso (cólon) é qualitativamente similar àquela encontrada nas fezes. As populações bacteriarias no cólon alcançam níveis de l.000/mL de fluido.
Coliformes são os mais proeminentes e estreptococos, clostrídios e lactobacilos podem ser regularmente encontrados, mas as espécies predominantes são os anaeróbios (Bacteróides spp. e lactobacilos). Estes organismos podem exceder
Ao nascer, todo o trato gastrointestinal humano é estéril, mas as bactérias são adquiridas logo na primeira alimentação. O início da colonização varia com o alimento administrado ao recém-nato. Em crianças sendo amamentadas no peito da mãe, o número de bifidobactérias pode chegar a 90% do total da flora bacteriana intestinal. Enterobacteriaceae e Enterococcus faecalis estão regularmente presentes, mas em pequenas proporções, enquanto Bacteróides spp, estafilococos, lactobacilos e clostrídios estão praticamente ausentes. Em crianças alimentadas por mamadeiras, as bifidobactérias não são predominantes. Quando crianças que até então mamavam no peito da mãe passam a ter uma alimentação de leite de vaca ou com alimentos sólidos, por exemplo, as bifidobactérias progressivamente são acompanhadas de Bacteróides spp, estreptococos, lactobacilos e clostrídios.
Um comentário:
muito bom. vlw, serviu de mta ajuda no estudo.
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