terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Aula Patologia Clinica 1

Fundamento de Patologia Clinica 1

Professor: Giorgio.

Linguagem básica de Patologia

Saúde = Estado no qual o indivíduo vive em completa harmonia com o meio ambiente.

Doença = Manifestação de inadaptação fisiológica que reflete desvios do padrão normal do âmbito anatômico, fisiológico ou bioquímico.

Lesão = Alteração da estrutura e morfologia associada a estado de doença num indivíduo - macroscópica microscópica ou ultra-estrutural.

Etiologia = Causa da doença.

Sintomas clínicos = Evidência funcional da doença que pode ser determinada subjetivamente e/ou pelo próprio doente.

Sinais clínicos = Evidência funcional da doença que pode ser determinada objetivamente ou pelo observador.

Prognóstico = Resultado final da doença num indivíduo vivo.

Diagnóstico = Determinação da natureza da doença expressa de maneira concreta.

Patogênese = Desenvolvimento progressivo (seqüência de acontecimentos) de uma doença desde o seu ponto inicial até a conclusão final (recuperação ou morte).

Necropsia = Exame macroscópico do cadáver do individuo através da dissecção sistemática de modo a avaliar qualquer alteração anormal (lesão) presente.

Morte somática = Morte do corpo inteiro; paragem de todas as funções orgânicas.
Alterações post mortem = Morte celular que acompanha ou ocorre após a morte somática.
Alterações ante mortem = Alterações que ocorrem em células, tecidos e órgãos num indivíduo vivo antes da morte somática.

Epizootologia = Ciência que estuda epidemias em animais (ocorrência e disseminação de doenças em relação ao local geográfico, estação do ano, espécie, raça, idade, sexo, etc.).

Morbidade = Ocorrência de doença em relação ao número de indivíduos expostos (razão doente/saudável).

Mortalidade = Número de indivíduos mortos em resultado da doença.

Caracterização da doença

Patogenia – mecanismo
Manifestações – alterações patológicas e clínicas
Complicações e seqüelas – efeitos secundários
Prognóstico – previsão
Epidemiologia - incidência

Causa da doença

Fatores do hospedeiro ou genético - Polimorfismos, Sexo, Raça.

Fatores ambientais - Agentes infecciosos, Agentes químicos, Agentes físicos.

Patogenia da doença

Mecanismo através do qual a causa opera para produzir as manifestações clínicas e patológicas.

Inflamação = Resposta a agentes que causam lesão tecidular. Reação auto-imune, efeitos indesejáveis do sistema imune contra o próprio organismo.

Degenerescência = Alteração de células ou tecidos em resposta a diversos agentes ou falha na sua adaptação.

Neoplasia = Mecanismo pelo qual o agente causador do cancro leva ao desenvolvimento de neoplasias.

Manifestações patológicas e clínicas

Através da via patogênica o agente etiológico atua produzindo manifestações de doença, que originam sinais e sintomas clínicos (ex. emagrecimento e dispnéia) e as características patológicas ou lesão (ex. carcinoma do pulmão) que os originam.

Complicações e seqüelas

As doenças podem ter efeitos prolongados, secundários ou distantes.

Prognóstico

Previsão da evolução provável da doença baseada em achados clínicos e patológicos.

Patogenia da doença

Congênitas – Genéticas e Não genéticas.

Adquiridas – Inflamatórias, Vasculares, Alterações do crescimento, Alterações metabólicas e degenerativas.

Postulado de Kock

ü Causa de doença não é sempre óbvia e direta - Postulado de Kock 1882
A presença de um agente deve sempre ser comprovada e isolada em cultura pura.
O agente não poderá ser encontrado em casos de outras doenças.

ü Uma vez isolado, o agente deve ser capaz de reproduzir a doença (inoculação em animais experimentais).

ü O mesmo agente deve poder ser recuperado dessas pessoas experimentalmente infectadas e de novo isolado em cultura pura.

Classes de doenças

Hereditária, Vascular, Congênita, Metabólica, Traumática, Nutricional, Física, Psicológica,

Química, Iatrogênica, Infecciosa, Tumoral, Inflamatória, Idiopática.

Doenças congênitas

Nem todas as anomalias do recém-nascido têm origem em alterações genéticas.

Feto susceptível a fatores variável.

Anomalias em resultado de: Doenças infecciosas, Má nutrição

Doenças Infecciosas

Natureza do agente patogênico: Primes, Vírus e Bactérias, Nano bactérias, Clamídia,

Rickettsia e Micoplasma, Fungos e Algas, Protozoários e Metazoários.

Primes “Proteinaceous infeccious particles” - Stanley Prusiner, Nobel 1997.

Proteínas que afetam outras proteínas do hospedeiro alterando a sua função

Doenças neuro degenerativas ex. Scrapie, Kuru, BSE.

Fatais deprimem a resposta imune.

Método tradicional de combate a agentes patogénicos não aplicável.

Problema no que respeita a “Cross species transmission”.

Vírus

Não se movem ou replicam fora do hospedeiro, utilizam maquinaria celular.

Mecanismos transmissão: aerossois, via feco/oral, insectos, transmissão vertical.

Mutam para escapar da vigilância sistema imune.

Neoplasias.

Inclusões (Papiloma virus).

Bactérias

Reconhecimento em exsudados e/ou tecidos .

Cultura em meios especificos o PCR, sequenciação .

Nanobactérias

Ligeiramente maiores que vírus.

Utilização de cálcio e fósforo para protecção

Responsáveis pela formação de cálculos renais.

Presentes em 80% do soro de bovino.

Clamidia, Rickettsia, Micoplasma

Bactérias

Clamidia (ap. Respiratório e genital, intracelular, epitélios).

Rickettsia (parasita intracelular, transmissão por artrópodes), zoonoses (Rickettsia rickettsii). Micoplasma (são parede celular, ap. Respiratório, genital, digestivo e gl. Mamária de bovinos) - Pleuropneumonia contagiosa bovina.

Fungos

Eucariotas, vivem livres no meio ambiente.

Oportunistas (debilitação conteúdo em glicose elevado, antibioterapia – Candida).

Dermatrópico (ring worm) ou sistémico (Aspergillus).

Micose sistémica (doença geográfica – Blastomyces).

Algas

Oportunistas nos animais – Prototheca

Mamite bovina e infecção sistémica e/ou local em carnívoros

Protozoários e Metazoários

Parasitas eucariotas intracelulares ou luminais

Transmissão por ingestão ou através de insetos

Resposta inflamatória forte a ligeira

Alguns são zoonóticos (Toxoplasma, Cryptosporidium, Echinoccocus)

Toxinas

Maioria entrada por via intestinal, algumas por inalação

Toxinas essenciais à disseminação bacteriana – exotoxinas

Fígado é o primeiro local de lesão - Algumas sofrem biotranformação neste orgão – citocromo P-450 e Aflotoxina na truta – hepatocarcinoma.

Doenças Físicas

Trauma – Atropelamento

Calor – Golpe de calor (Verão)

Frio – Hipotermia recém-nascidos

Radiações

Doenças metabólicas

Metabolismo dos lípidos

Sindrome fígado gordo.

Lipidose Hepática.

Desequilíbrio nutricional

Deficiência em vitamina A

Deficiência em ferro.

Desequilíbrio hormonal e sindrome paraneoplásico

Deficiência em proteínas

Diminuição da produção de anticorpos

Depressão do complemento

Depressão do sistema imune

Doenças idiopáticas

Doenças cuja causa não é conhecida e não foram reproduzidas experimentalmente são consideradas idiopáticas.

Hepatite crónica progressiva no cão - No homem é induzida por vírus.

Adaptação celular

Conceito de normalidade

Célula normal e limites de adaptação importantes no estudo de outros desvios que ocorrem na doença ou morte celular. Princípio importante uma vez que a célula é o denominador de toda a matéria viva.

Constituintes da célula

água,priões, proteínas, lípidos e carbohidratos.

Função e estrutura célula normal

Membrana celular, Glicocálice, Núcleo, Mitocôndrias, Retículo endoplasmático, Aparelho de Golgi,Lisossomas, Peroxissoma,Citoesqueleto, Microtubulos, Filamentos citoplasmáticos .

Homeostasia

Manutenção das condições essenciais e compatíveis com a função e sobrevivência da célula. Inclui: Resistência à mudança e Mecanismo que mantém condições constantes ou dentro dos valores limites de algumas das suas variáveis.

Adaptação celular

A exposição prolongada das células a estímulos normais, adversos ou exacerbados induz vários tipos de adaptações ao nível das células, tecidos ou órgãos.

ü A célula sofre adaptação dentro de limites fisiológicos.

ü A célula pode responder produzindo proteínas de “stress” protegendo-a da lesão e ajudando-a a recuperar.

ü Uma célula que sofreu lesão (doente) apresenta alterações associadas à sua morfologia e função atingindo: membrana celular, mitocôndrias, retículo endoplasmático e lisossomas. O núcleo sofre alterações imperceptíveis (alterações ultraestruturais).

ü É um processo normalmente reversível

ü Poderá ser irreversível, no caso de perda celular (Ex: osteoporose, enfarte)

ü Aumento de função – hiperplasia e hipertrofia.

ü Diminuição de função –atrofia.

ü Diferenciação celular - metaplasia

ü Alterações funcionais da célula àAlterações morfológicas

Homeostasia 2

Capacidade da célula estabelecer novos níveis metabólicos e/ou actividade funcional, em face a um estimulo, sem pôr em causa a sua própria vida.

Atrofia (cérebro, timo, músculo, supra-renal)

Hipertrofia (ventrículo esquerdo, músculo, fígado)

Hiperplasia (endométrio, calo, glândula mamária)

Metaplasia (epitélio colunar brônquico, metaplasia escamosa da bexiga. )

Hipoplasia – crescimento incompleto ou parcial.

Agenesia – Falta completa do desenvolvimento de um órgão.

Célula em adaptação não está num estado normal nem apresenta sinais de lesão!

• Resposta adaptativa

Tecido (tipo celular e susceptibilidade)

Agente (dose, duração e mecanismo)

Doença = Incapacidade de adaptação.

Níveis de detecção de doença = Animal no seu todo, A nível orgânico e Nível molecular.

Lesão celular:

1os acontecimentos: Bioquímicos e Moleculares

2os acontecimentos: Morfológicos (lesão celular).

Lesão não letal:

Incapacidade funcional temporária (mecanismo homeostático normal).

Alteração estrutural com incapacidade funcional permanente (neurónios e miócitos cardíacos).

Alterações do DNA conduzindo a alteração hereditária do fenótipo celular (mutação)

O processo doença é composto por mecanismos que interactuam e evoluem continuamente.

Alterações destrutivas:

• Incisão (corte)

• Abrasivo (lesão de fricção)

• Escoriação (lesão de fricção)

• Laceração (lesão por extensão)

• Contusão (lesão por extensão profunda)

• Fractura (lesão por extensão do osso)

• Constrição ou dilatação

Ruptura

Alterações degenerativas:

Degenerescência: Hidrópica, Gorda, Hialina, Fibrinóide.

Necrose : Coagulação, Liquefacção, Caseosa, Gorda.

Mineralização: Metastática e Distrófica

Alterações inflamatórias: Aguda, Subaguda, Crónica, Supurativa, Não-supurativa, Granulomatosa , Focal,Multifocal , Difusa.

Alterações vasculares: Hiperémia, Congestão, Edema, Trombose, Isquemia, Hemorragia.

Alterações do crescimento e diferenciação: Atrofia, Hipertrofia, Aplasia, Hipoplasia, Hiperplasia, Metaplasia, Neoplasia.

Alterações do desenvolvimento: Alterações congénitas.

Causas de lesão celular

Podem ser inúmeras e variadas.

Agentes infecciosos: virus, bactérias, fungos, parasitas.

Agentes químicos e físicos: calor, frio, radiação, trauma.

Podem existir milhares de agentes etiológicos individuais e o organismo não reage independentemente a cada um deles.

Anomalias genéticas:

Autossómicas, Ligadas ao sexo, Dominantes, Recessivas, Poligénicas.

Lesões físicas:

Trauma, Obstrução, Pressão, Radiações ionizantes, Vibrações ultrasónicas, Radiações UV.

Lesões térmicas:

Calor (> +5ºC) (Superficial, Profunda, Corrente eléctrica, Microondas) Frio (<-15ºC) etc.

Lesões químicas:

Exógenas (Toxinas, Venenos, Drogas, Substâncias alimentares) e Endógenas (Metabolitos, Citolitícas ou substâncias inibidoras (AgAb+complemento), Radicais livres, Oxidantes etc).

Alterações metabólicas:

Desequilibro hormonal, Alterações enzimáticas, Alterações membranares, Alterações de proteínas estruturais etc

Lesões infecciosas:

Bacterianas, Fúngicas, Víricas, Protozoárias, Parasitárias, Micoplasmicas.

Alterações nutricionais: Subnutrição, Sobrenutrição e Desequilibro nutricional, Deficiências nutricionais.

Alterações citoplasmáticas

Alterações do volume (elementos da estrutura sub celular).

Alterações estruturais qualitativas (anormalidade morfológica das organelas)

Inclusões anormais (nucleares ou citoplasmáticas, endógenas ou exógenas, composição especifica ou inespecífica)

Inclusões anormais

Endógenas (Produto final do catabolismo celular; lipídios; proteínas; secreções; lisossomos) (ex: bilirrubina)

Exógenas (corpo estranho rico em minerais; agentes infecciosos; restos celulares)

Manifestações sistêmicas de lesão celular

Febre, Fadiga, Falta de bem-estar, Falta de apetite, Leucocitose, Dor, Ritmo cardíaco, Enzimas sorológicas.

Acumulação intracelular

A acumulação de montantes anormais de diversas substâncias é uma manifestação celular de alteração metabólica.

ü Acumulação transitória ou permanente.

ü Sem conseqüência para a célula.

ü Causa diferentes graus de lesão.

ü Acumulação citoplasmática (lisossomos) ou nuclear.

ü Produção da própria célula ou externa.

Substância normal endógena (Esteatose).

Substância normal ou anormal endógena não metabolizada (alteração genética → doença de armazenamento).

Substância exógena anormal que se deposita ou acumula devido à falta de maquinaria enzimática para transporte ou degradação (carvão e sílica).

ü Lipídios (Esteatose, macrófagos)

ü Glicogênio (glicose ou glicogênio - PAS) – Glicogenose

ü Proteínas (Corpos de Russell)

ü Pigmentos (endógenos ou exógenos)

Lipídios - Alteração metabolismo

Esteatose (toxinas, má nutrição, diabetes, obesidade e anoxia)

Colesterol ou ésteres de colesterol (células fagocitárias – células espumosas, xantomas)

Acumulação hepática triglicerídeos

Causas:

Álcool – alteração da função da mitocôndria e dos microssomos.
CCl4 e má nutrição protéica - apo proteína.
Anoxia – inibição da oxidação dos ácidos graxos.
Fome - recrutamento das gorduras síntese de triglicerídeos

Lipidose hepática – Salmonídeos

Causa:

Dieta à base de ácidos gordos poliinsaturados juntamente com montantes inadequados de anti-oxidantes (vit. E).

Sinais clínicos:

Apetite reduzido e aumento da mortalidade. Anemia (brânquias pálidas e ascite).

Aspecto macroscópico:

Fígado amarelo-alaranjado e friável.

Lipomatose – acumulação estromal de gordura

Mecanismo diferente das acumulações descritas.

Acumulação de gordura no tecido conjuntivo estromal (coração e pâncreas).

Não interfere com a função dos órgãos.

Substituição do tecido muscular por tecido adiposo.

Alteração metabolismo do colesterol

Aterosclerose (cél. musculares e macrófagos).

Xantomas (hiperlipidêmica adquirida ou herdada - tecido conjuntivo subepidérmico e tendões).

Inflamação e necrose (macrófagos).

Colesteróis (macrófagos na lâmina própria da vesícula biliar).

Proteína - Alteração metabolismo

Alterações microscópicas menos evidentes que as dos lipídios

Reabsorção nos túbulos renais proximais (proteinúria, pinocitose. fagolisosoma).

Imunoglobulina nos plasmócitos (RER, Corpos de Russel).

Alfa1-antitripsina nos hepatócitos (RE).

Glicogênio

Alterações no metabolismo da glicose ou glicogênio

Diabetes (glicose) - rim, fígado, músculo cardíaco.

Glicogenose – Incapacidade de metabolizar formas normais ou anormais de glicogênio

Acumulação intracelular pigmento

Substâncias normais ou anormais que se depositam nas células.
Pigmentações Exógenas: Silicose, asbesto, cortiça; Antracose; Parasitários.
Pigmentações Endógenas: Melanina; Pigmentos hemáticos; Pigmentos lipogénicos.

Pigmentações endógenas – Pigmentos hemáticos

Pigmentos derivados do metabolismo da hemoglobina.

Alguns são compostos fisiológicos (Hemossiderina e bilirrubina) - acumulam por excesso.

Pigmentos hemáticos - meta-hemoglobina e hematinas (parasitas protozoários e metazoários) acumulação anormal.

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