Fundamento de Patologia Clinica 1
Professor: Giorgio.
Linguagem básica de Patologia
Saúde = Estado no qual o indivíduo vive em completa harmonia com o meio ambiente.
Doença = Manifestação de inadaptação fisiológica que reflete desvios do padrão normal do âmbito anatômico, fisiológico ou bioquímico.
Lesão = Alteração da estrutura e morfologia associada a estado de doença num indivíduo - macroscópica microscópica ou ultra-estrutural.
Etiologia = Causa da doença.
Sintomas clínicos = Evidência funcional da doença que pode ser determinada subjetivamente e/ou pelo próprio doente.
Sinais clínicos = Evidência funcional da doença que pode ser determinada objetivamente ou pelo observador.
Prognóstico = Resultado final da doença num indivíduo vivo.
Diagnóstico = Determinação da natureza da doença expressa de maneira concreta.
Patogênese = Desenvolvimento progressivo (seqüência de acontecimentos) de uma doença desde o seu ponto inicial até a conclusão final (recuperação ou morte).
Necropsia = Exame macroscópico do cadáver do individuo através da dissecção sistemática de modo a avaliar qualquer alteração anormal (lesão) presente.
Morte somática = Morte do corpo inteiro; paragem de todas as funções orgânicas.
Alterações post mortem = Morte celular que acompanha ou ocorre após a morte somática.
Alterações ante mortem = Alterações que ocorrem em células, tecidos e órgãos num indivíduo vivo antes da morte somática.
Epizootologia = Ciência que estuda epidemias em animais (ocorrência e disseminação de doenças em relação ao local geográfico, estação do ano, espécie, raça, idade, sexo, etc.).
Morbidade = Ocorrência de doença em relação ao número de indivíduos expostos (razão doente/saudável).
Mortalidade = Número de indivíduos mortos em resultado da doença.
Caracterização da doença
Patogenia – mecanismo
Manifestações – alterações patológicas e clínicas
Complicações e seqüelas – efeitos secundários
Prognóstico – previsão
Epidemiologia - incidência
Causa da doença
Fatores do hospedeiro ou genético - Polimorfismos, Sexo, Raça.
Fatores ambientais - Agentes infecciosos, Agentes químicos, Agentes físicos.
Patogenia da doença
Mecanismo através do qual a causa opera para produzir as manifestações clínicas e patológicas.
Inflamação = Resposta a agentes que causam lesão tecidular. Reação auto-imune, efeitos indesejáveis do sistema imune contra o próprio organismo.
Degenerescência = Alteração de células ou tecidos em resposta a diversos agentes ou falha na sua adaptação.
Neoplasia = Mecanismo pelo qual o agente causador do cancro leva ao desenvolvimento de neoplasias.
Manifestações patológicas e clínicas
Através da via patogênica o agente etiológico atua produzindo manifestações de doença, que originam sinais e sintomas clínicos (ex. emagrecimento e dispnéia) e as características patológicas ou lesão (ex. carcinoma do pulmão) que os originam.
Complicações e seqüelas
As doenças podem ter efeitos prolongados, secundários ou distantes.
Prognóstico
Previsão da evolução provável da doença baseada em achados clínicos e patológicos.
Patogenia da doença
Congênitas – Genéticas e Não genéticas.
Adquiridas – Inflamatórias, Vasculares, Alterações do crescimento, Alterações metabólicas e degenerativas.
Postulado de Kock
ü Causa de doença não é sempre óbvia e direta - Postulado de Kock 1882
A presença de um agente deve sempre ser comprovada e isolada em cultura pura.
O agente não poderá ser encontrado em casos de outras doenças.
ü Uma vez isolado, o agente deve ser capaz de reproduzir a doença (inoculação em animais experimentais).
ü O mesmo agente deve poder ser recuperado dessas pessoas experimentalmente infectadas e de novo isolado em cultura pura.
Classes de doenças
Hereditária, Vascular, Congênita, Metabólica, Traumática, Nutricional, Física, Psicológica,
Química, Iatrogênica, Infecciosa, Tumoral, Inflamatória, Idiopática.
Doenças congênitas
Nem todas as anomalias do recém-nascido têm origem em alterações genéticas.
•Feto susceptível a fatores variável.
•Anomalias em resultado de: Doenças infecciosas, Má nutrição
Doenças Infecciosas
Natureza do agente patogênico: Primes, Vírus e Bactérias, Nano bactérias, Clamídia,
Rickettsia e Micoplasma, Fungos e Algas, Protozoários e Metazoários.
Primes “Proteinaceous infeccious particles” - Stanley Prusiner, Nobel 1997.
Proteínas que afetam outras proteínas do hospedeiro alterando a sua função
Doenças neuro degenerativas ex. Scrapie, Kuru, BSE.
Fatais deprimem a resposta imune.
Método tradicional de combate a agentes patogénicos não aplicável.
Problema no que respeita a “Cross species transmission”.
Vírus
Não se movem ou replicam fora do hospedeiro, utilizam maquinaria celular.
Mecanismos transmissão: aerossois, via feco/oral, insectos, transmissão vertical.
Mutam para escapar da vigilância sistema imune.
Neoplasias.
Inclusões (Papiloma virus).
Bactérias
Reconhecimento em exsudados e/ou tecidos .
Cultura em meios especificos o PCR, sequenciação .
Nanobactérias
Ligeiramente maiores que vírus.
Utilização de cálcio e fósforo para protecção
Responsáveis pela formação de cálculos renais.
Presentes em 80% do soro de bovino.
Clamidia, Rickettsia, Micoplasma
Bactérias
Clamidia (ap. Respiratório e genital, intracelular, epitélios).
Rickettsia (parasita intracelular, transmissão por artrópodes), zoonoses (Rickettsia rickettsii). Micoplasma (são parede celular, ap. Respiratório, genital, digestivo e gl. Mamária de bovinos) - Pleuropneumonia contagiosa bovina.
Fungos
Eucariotas, vivem livres no meio ambiente.
Oportunistas (debilitação conteúdo em glicose elevado, antibioterapia – Candida).
Dermatrópico (ring worm) ou sistémico (Aspergillus).
Micose sistémica (doença geográfica – Blastomyces).
Algas
Oportunistas nos animais – Prototheca
Mamite bovina e infecção sistémica e/ou local em carnívoros
Protozoários e Metazoários
Parasitas eucariotas intracelulares ou luminais
Transmissão por ingestão ou através de insetos
Resposta inflamatória forte a ligeira
Alguns são zoonóticos (Toxoplasma, Cryptosporidium, Echinoccocus)
Toxinas
Maioria entrada por via intestinal, algumas por inalação
Toxinas essenciais à disseminação bacteriana – exotoxinas
Fígado é o primeiro local de lesão - Algumas sofrem biotranformação neste orgão – citocromo P-450 e Aflotoxina na truta – hepatocarcinoma.
Doenças Físicas
Trauma – Atropelamento
Calor – Golpe de calor (Verão)
Frio – Hipotermia recém-nascidos
Radiações
Doenças metabólicas
Metabolismo dos lípidos
Sindrome fígado gordo.
Lipidose Hepática.
Desequilíbrio nutricional
Deficiência
Deficiência em ferro.
Desequilíbrio hormonal e sindrome paraneoplásico
Deficiência em proteínas
Diminuição da produção de anticorpos
Depressão do complemento
Depressão do sistema imune
Doenças idiopáticas
Doenças cuja causa não é conhecida e não foram reproduzidas experimentalmente são consideradas idiopáticas.
Hepatite crónica progressiva no cão - No homem é induzida por vírus.
Adaptação celular
Conceito de normalidade
Célula normal e limites de adaptação importantes no estudo de outros desvios que ocorrem na doença ou morte celular. Princípio importante uma vez que a célula é o denominador de toda a matéria viva.
Constituintes da célula
água,priões, proteínas, lípidos e carbohidratos.
Função e estrutura célula normal
Membrana celular, Glicocálice, Núcleo, Mitocôndrias, Retículo endoplasmático, Aparelho de Golgi,Lisossomas, Peroxissoma,Citoesqueleto, Microtubulos, Filamentos citoplasmáticos .
Homeostasia
Manutenção das condições essenciais e compatíveis com a função e sobrevivência da célula. Inclui: Resistência à mudança e Mecanismo que mantém condições constantes ou dentro dos valores limites de algumas das suas variáveis.
Adaptação celular
A exposição prolongada das células a estímulos normais, adversos ou exacerbados induz vários tipos de adaptações ao nível das células, tecidos ou órgãos.
ü A célula sofre adaptação dentro de limites fisiológicos.
ü A célula pode responder produzindo proteínas de “stress” protegendo-a da lesão e ajudando-a a recuperar.
ü Uma célula que sofreu lesão (doente) apresenta alterações associadas à sua morfologia e função atingindo: membrana celular, mitocôndrias, retículo endoplasmático e lisossomas. O núcleo sofre alterações imperceptíveis (alterações ultraestruturais).
ü É um processo normalmente reversível
ü Poderá ser irreversível, no caso de perda celular (Ex: osteoporose, enfarte)
ü Aumento de função – hiperplasia e hipertrofia.
ü Diminuição de função –atrofia.
ü Diferenciação celular - metaplasia
ü Alterações funcionais da célula àAlterações morfológicas
Homeostasia 2
Capacidade da célula estabelecer novos níveis metabólicos e/ou actividade funcional, em face a um estimulo, sem pôr em causa a sua própria vida.
Atrofia (cérebro, timo, músculo, supra-renal)
Hipertrofia (ventrículo esquerdo, músculo, fígado)
Hiperplasia (endométrio, calo, glândula mamária)
Metaplasia (epitélio colunar brônquico, metaplasia escamosa da bexiga. )
Hipoplasia – crescimento incompleto ou parcial.
Agenesia – Falta completa do desenvolvimento de um órgão.
Célula em adaptação não está num estado normal nem apresenta sinais de lesão!
• Resposta adaptativa
Tecido (tipo celular e susceptibilidade)
Agente (dose, duração e mecanismo)
Doença = Incapacidade de adaptação.
Níveis de detecção de doença = Animal no seu todo, A nível orgânico e Nível molecular.
Lesão celular:
1os acontecimentos: Bioquímicos e Moleculares
2os acontecimentos: Morfológicos (lesão celular).
Lesão não letal:
• Incapacidade funcional temporária (mecanismo homeostático normal).
• Alteração estrutural com incapacidade funcional permanente (neurónios e miócitos cardíacos).
• Alterações do DNA conduzindo a alteração hereditária do fenótipo celular (mutação)
O processo doença é composto por mecanismos que interactuam e evoluem continuamente.
Alterações destrutivas:
• Incisão (corte)
• Abrasivo (lesão de fricção)
• Escoriação (lesão de fricção)
• Laceração (lesão por extensão)
• Contusão (lesão por extensão profunda)
• Fractura (lesão por extensão do osso)
• Constrição ou dilatação
Ruptura
Alterações degenerativas:
Degenerescência: Hidrópica, Gorda, Hialina, Fibrinóide.
Necrose : Coagulação, Liquefacção, Caseosa, Gorda.
Mineralização: Metastática e Distrófica
Alterações inflamatórias: Aguda, Subaguda, Crónica, Supurativa, Não-supurativa, Granulomatosa , Focal,Multifocal , Difusa.
Alterações vasculares: Hiperémia, Congestão, Edema, Trombose, Isquemia, Hemorragia.
Alterações do crescimento e diferenciação: Atrofia, Hipertrofia, Aplasia, Hipoplasia, Hiperplasia, Metaplasia, Neoplasia.
Alterações do desenvolvimento: Alterações congénitas.
Causas de lesão celular
• Podem ser inúmeras e variadas.
• Agentes infecciosos: virus, bactérias, fungos, parasitas.
• Agentes químicos e físicos: calor, frio, radiação, trauma.
• Podem existir milhares de agentes etiológicos individuais e o organismo não reage independentemente a cada um deles.
Anomalias genéticas:
Autossómicas, Ligadas ao sexo, Dominantes, Recessivas, Poligénicas.
Lesões físicas:
Trauma, Obstrução, Pressão, Radiações ionizantes, Vibrações ultrasónicas, Radiações UV.
Lesões térmicas:
Calor (> +5ºC) (Superficial, Profunda, Corrente eléctrica, Microondas) Frio (<-15ºC) etc.
Lesões químicas:
Exógenas (Toxinas, Venenos, Drogas, Substâncias alimentares) e Endógenas (Metabolitos, Citolitícas ou substâncias inibidoras (AgAb+complemento), Radicais livres, Oxidantes etc).
Alterações metabólicas:
Desequilibro hormonal, Alterações enzimáticas, Alterações membranares, Alterações de proteínas estruturais etc
Lesões infecciosas:
Bacterianas, Fúngicas, Víricas, Protozoárias, Parasitárias, Micoplasmicas.
Alterações nutricionais: Subnutrição, Sobrenutrição e Desequilibro nutricional, Deficiências nutricionais.
Alterações citoplasmáticas
• Alterações do volume (elementos da estrutura sub celular).
• Alterações estruturais qualitativas (anormalidade morfológica das organelas)
• Inclusões anormais (nucleares ou citoplasmáticas, endógenas ou exógenas, composição especifica ou inespecífica)
Inclusões anormais
Endógenas (Produto final do catabolismo celular; lipídios; proteínas; secreções; lisossomos) (ex: bilirrubina)
Exógenas (corpo estranho rico em minerais; agentes infecciosos; restos celulares)
Manifestações sistêmicas de lesão celular
Febre, Fadiga, Falta de bem-estar, Falta de apetite, Leucocitose, Dor, Ritmo cardíaco, Enzimas sorológicas.
Acumulação intracelular
A acumulação de montantes anormais de diversas substâncias é uma manifestação celular de alteração metabólica.
ü Acumulação transitória ou permanente.
ü Sem conseqüência para a célula.
ü Causa diferentes graus de lesão.
ü Acumulação citoplasmática (lisossomos) ou nuclear.
ü Produção da própria célula ou externa.
Substância normal endógena (Esteatose).
Substância normal ou anormal endógena não metabolizada (alteração genética → doença de armazenamento).
Substância exógena anormal que se deposita ou acumula devido à falta de maquinaria enzimática para transporte ou degradação (carvão e sílica).
ü Lipídios (Esteatose, macrófagos)
ü Glicogênio (glicose ou glicogênio - PAS) – Glicogenose
ü Proteínas (Corpos de Russell)
ü Pigmentos (endógenos ou exógenos)
Lipídios - Alteração metabolismo
Esteatose (toxinas, má nutrição, diabetes, obesidade e anoxia)
Colesterol ou ésteres de colesterol (células fagocitárias – células espumosas, xantomas)
Acumulação hepática triglicerídeos
Causas:
Álcool – alteração da função da mitocôndria e dos microssomos.
CCl4 e má nutrição protéica -⇓ apo proteína.
Anoxia – inibição da oxidação dos ácidos graxos.
Fome -⇑ recrutamento das gorduras⇓ síntese de triglicerídeos
Lipidose hepática – Salmonídeos
Causa:
Dieta à base de ácidos gordos poliinsaturados juntamente com montantes inadequados de anti-oxidantes (vit. E).
Sinais clínicos:
Apetite reduzido e aumento da mortalidade. Anemia (brânquias pálidas e ascite).
Aspecto macroscópico:
Fígado amarelo-alaranjado e friável.
Lipomatose – acumulação estromal de gordura
Mecanismo diferente das acumulações descritas.
Acumulação de gordura no tecido conjuntivo estromal (coração e pâncreas).
Não interfere com a função dos órgãos.
Substituição do tecido muscular por tecido adiposo.
Alteração metabolismo do colesterol
Aterosclerose (cél. musculares e macrófagos).
Xantomas (hiperlipidêmica adquirida ou herdada - tecido conjuntivo subepidérmico e tendões).
Inflamação e necrose (macrófagos).
Colesteróis (macrófagos na lâmina própria da vesícula biliar).
Proteína - Alteração metabolismo
Alterações microscópicas menos evidentes que as dos lipídios
Reabsorção nos túbulos renais proximais (proteinúria, pinocitose. fagolisosoma).
Imunoglobulina nos plasmócitos (RER, Corpos de Russel).
Alfa1-antitripsina nos hepatócitos (RE).
Glicogênio
Alterações no metabolismo da glicose ou glicogênio
Diabetes (glicose) - rim, fígado, músculo cardíaco.
Glicogenose – Incapacidade de metabolizar formas normais ou anormais de glicogênio
Acumulação intracelular pigmento
Substâncias normais ou anormais que se depositam nas células.
Pigmentações Exógenas: Silicose, asbesto, cortiça; Antracose; Parasitários.
Pigmentações Endógenas: Melanina; Pigmentos hemáticos; Pigmentos lipogénicos.
Pigmentações endógenas – Pigmentos hemáticos
Pigmentos derivados do metabolismo da hemoglobina.
Alguns são compostos fisiológicos (Hemossiderina e bilirrubina) - acumulam por excesso.
Pigmentos hemáticos - meta-hemoglobina e hematinas (parasitas protozoários e metazoários) acumulação anormal.
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